quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Relativizar uma Amizade


Já me dei com muitas pessoas. Muitas pessoas diferentes. Muitas pessoas que eu achei que ficariam na minha vida durante muito tempo, e não ficaram. Na verdade, o meu grupo de Amigos já foi grande. Começaram as confusões. Começaram as intrigas. Surgiram as traições. A selecção natural deu conta do recado – Darwin explica.
Neste momento, tenho 4 grupos distintos com os quais me dou, com os quais convivo (quase) diariamente. São grupos diferentes, com conceitos diferentes, com rotinas diferentes. O que os une é a coerência do discurso, a sinceridade das opiniões e a não existente pena de me fazerem ouvir o que eu não quero. 
São estes grupos diferentes que sabem todos os contornos da minha vida: as minhas vitórias, as derrotas, as frustrações, os novos projectos, as ambições, os “segredos”, os relacionamentos, os problemas reais, entre outros. É a estas pessoas que recorro quando alguma coisa corre mal. É com eles que como porcaria às tantas da manhã. É com eles que faço noites de Lambrusco. É com eles que vou passear aos fins-de-semana. É com eles que digo as maiores parvoíces e com quem dou as maiores gargalhadas. São eles que me dão incentivo quando as situações não estão a correr como era previsto. São eles que me ouvem falar de assuntos que nem sempre lhes apetece. São eles que ficam à espera que eu chegue a determinado jantar/café porque sou o que saio mais tarde do trabalho.
Apesar das inúmeras coisas boas que eles fazem por mim, também são eles que me tiram toda a razão, quando eu acho que a tenho. São eles que me chamam arrogante quando o sou. São eles que me dizem que fui precipitado ou impulsivo. São eles que me chamam à atenção para não ser bruto, para não ser tão frio. São eles que me dizem que tenho de acreditar, que tenho de confiar, quando é o que menos me parece que devo fazer.
Faço o mesmo pelos meus Amigos. Parece-me que, em muitas Amizades, há o medo de se ser sincero. Preferem defender os Amigos e fingir que a culpa é sempre do outro lado. Preferem não dizer que estão errados, que agiram mal, que não deviam ter feito ou dito qualquer coisa. É mais fácil optar por esse caminho, apesar de, na minha opinião, não ser o mais correcto.
Posto isto, sempre que me surge alguma barreira, procuro vários Amigos para ter várias opiniões. Podem ser contraditórias, mas raramente o foram – porque, existe a tal coerência de discurso, sinceridade nas opiniões. Não há pena de me dizer o que eu não quero ouvir. Querem o melhor para mim e esse melhor também passa por me fazerem ouvir o que eu não quero, por me fazerem sentir mal caso não tenha procedido da melhor maneira.
Nunca optei por Amigo X ou Y para ouvir o que quero, para não levar na cabeça, para não me apontarem o dedo. Se o fizesse, estaria a relativizar as Amizades. Nunca deixei de falar, responder ou procurar alguém, só porque sabia que poderia haver a hipótese de me fazerem sentir culpado por uma situação na qual eu achava que estava coberto de razão. 
Faz-nos bem ficarmos sem armas. Faz-nos bem sentirmo-nos mal por nos terem tirado a razão que achávamos que existia. É isso que nos abre os olhos, que nos faz ver que não vivemos sozinhos, fechados na nossa bolha. É isso que nos faz ver que as nossas verdades não são absolutas.
As Amizades devem ser, também, para qualquer altura. Tal como os casamentos, para os bons e maus momentos - não só quando nos convém.
Pena que nem toda a gente pense assim. 

2 comentários:

  1. Mesmo que nem sempre presente fisicamente, o verdadeiro amigo está lá, e eu tb tou para te dar na cabeça, porque quem gosta quer o melhor para o outro...Tb já me abriste os olhos e só tenho a agradecer! Cada amigo ,de cada um dos grupos distintos, tem o seu papel, todos importantes...eu acho! Pima

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